Vittória Braun e Rafael Lorga – Um salto pra dentro do eu

Por: Luiz Magalhães

Vittória Braun é de Belém. Rafael Lorga, do Rio. Casados, cantores e compositores, lançaram juntos recentemente o álbum Salto no Breu.

O amor bateu em 2014, entre os atos da peça Dinossauros e Placentas, dirigida pelo cupido Juliana Linhares, vocal do grupo Pietá, o qual Rafael é integrante.

A união musical se deu em 2019, com o EP Alargar o Mundo, e vem ganhando status de união estável.

A produção musical é assinada por Pedro Itan, com coprodução do cantor Claudio Nucci, membro fundador do Boca Livre, grupo pioneiro no mercado independente brasileiro.

O disco começa com a homônima Salto no Breu. “Quem é você?” é a questão que se impõe logo na abertura na faixa. Movimentando-se ao encontro de mistérios, o arranjo flutua entre camas de guitarra e violão que e se encruzam sem o menor puder.  

As vozes do casal se encontram na segunda parte da canção, já aquecidos e sem medo de adentrar na escuridão.

Cangote de Razão dá rumo a uma musicalidade que tem a percussão na linha de frente e poesia de brasilidade ancestral.

Na seguida, Esse Samba que Fugiu tem Vittória cantando solo no primeiro verso, num belo lamento.

A faixa quatro, Meu Altar, traz a participação Zé Manoel, cantor e compositor pernambucano.

A aglomeração musical fica completa com o mestre Jaques Morelenbaum e seu violoncelo de veludo, que afofa a aterrissagem.

A curta Aquário enfatiza o fator repetição, que eleva o disco à uma zona de transe. Um estado hipnótico popular brasileiro.

Mito, reza e lirismo se fundem em Caminho de Casa e deixam cada vez mais claro que o salto é para dentro de si, no inconsciente que nos guia sem que saibamos ao certo para onde.

Em Jornada, o destino é aventado. Mas pouco percebido com um fato do plano da realidade.

Jr. Tostoi, guitarrista conhecido por seu trabalho ao lado de Lenine, agita o barco em Fogo nos Porões, provocando os espíritos psicodélicos num solo regado a efeitos.

O fogo segue ardente em Lamparina e cessa em Sinceramente, com o auxílio luxuoso de um cavaquinho.

Salto no Breu é tocando em tons pastéis profundos. Transcende na medida em que nos empurra para dentro, numa dimensão que se estende entre ancestralidade e ruídos contemporâneos.

O casal Vittória e Rafael compõe uma musicalidade residual, parcial, que se torna bela e atemporal no encontro, na lembrança, lá dentro, onde se escapa e não se explica.


Por: Luiz Magalhães

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