Por: Luiz Magalhães
Cantora, compositora e atriz, Tuini chegou na área. Ou melhor. Mergulhou na natureza. E de lá trouxe consigo um som calmo, tranquilo, transgredindo toda forma de aceleração do pensamento.
O disco Encanto, o primeiro da carreira, estreou em todas as plataformas no final de maio. Produzido por Diogo Sili, Tuini teve ainda o suporte de músicos calejados da cena carioca, como Kiko Horta, na sanfona, e Yuri Villar, no saxofone.
As cordas completam a produção com um time só de mulheres: Maria Clara Valle, no violoncelo, Renata Neves, no violino, Tina Solon, na viola.
A primeira música, Janela, é o convite que a gente precisava para abrir as portas da percepção e ver o sol nascer.
A voz de Tuini inicia seu voo na Nova MPB tendo como motor uma zabumba pulsante e um violão dedilhado, acamando sua melodia.
Mãe Natureza, segunda faixa, é um dos muitos duros golpes nos urbanoides de plantão. O andamento se aconchega um pouco mais para trás e a flauta completa o onírico, o flutuante e o atemporal.
O ijexá Perto do Mar evoca um sonho de Caymmi. Timbres granulares da percussão desenham o dourado da areia, enquanto a barca corre; enquanto o sonho toca o seu umbigo.
O forró está de volta em Jasmineiro. E melhor, acompanhado das cordas. O regional abraça o clássico e o clássico se derrete pelo cancioneiro popular. Um casamento perfeito em suas diferenças.
Daí bate uma onda forte. A quinta música é um sambinha improvável no vai e vem dessa jangada, que corre vagarosa aos ouvidos. O passeio é com direito a batuque do tamborim, além dos contracantos da viola de sete e da saudosa sanfona.
O disco segue uma maré de águas calmas, navegando enquanto for preciso, vivendo enquanto não for preciso.
Músicas como Toda Água, Azul e Navegante põem em xeque as agendas cheias e as horas extras, ao injetar doses cavalares de stop no tempo, fazendo os ponteiros se recusarem a avançar.
Ao longo das 12 faixas, o cantar lírico porém certeiro de Tuini revela toda a potência onisciente de sua natureza essencialmente poética, trazendo à tona uma vitalidade necessária para o atual cenário da música contemporânea brasileira.
Por: Luiz Magalhães