Fernanda Takai fala sobre os primórdios do Pato Fu, música experimental e suas múltiplas inspirações

FOTO: Fabiana Figueiredo

Por: João Santiago

FERNANDA TAKAI, que dispensa maiores apresentações, topou uma entrevista EXCLUSIVA com João Santiago, editor do portal Música Brasileira Viva. A artista fundadora da banda Pato Fu contou como um CD da turma do Snoopy influenciou o projeto Música de Brinquedo, a influência experimental e a descrença no governo de Jair Bolsonaro (Sem Partido) em relação à cultura no Brasil.

Música Brasileira Viva: Uma das marcas registradas da carreira de vocês, na fase mais recente, é o projeto “Música de Brinquedo”. Como surgiu a ideia do projeto?

Fernanda Takai: No fim de 1995 nós compramos um CD da turma do Snoopy cantando Beatles com instrumentos de brinquedo, na época achamos uma ideia incrível mas o Pato Fu estava começando, tínhamos acabado de lançar nosso segundo álbum. Quando nossa filha nasceu em 2003, voltamos a escutar esse álbum e alguns anos depois resolvemos escolher um repertório pop adulto e colocar crianças cantando em algumas partes. Foi um desafio fazer tudo com brinquedos, miniaturas, instrumentos de plástico… mas o resultado foi apaixonante. O mais legal era ver que não era para os pequeninos apenas, as pessoas iam ao show por conta da sonoridade, do teatro de bonecos, da mágica instantânea que acontecia ali. Quando o disco foi lançado em 2010, ganhamos o terceiro disco de ouro da carreira, de forma totalmente independente, pelo nosso próprio selo.

MBV: Em alguns shows do Pato Fu, notamos uma proximidade com a música experimental, como quando o John toca bateria humana ou quando vocês utilizam brinquedos no projeto “Música de Brinquedo”. Como é a relação de vocês com esse tipo de experimentação?

F T: Faz parte da gênese da banda, quando começamos com bateria eletrônica e programações fora do esquadro… Desde o começo sempre houve espaço pra canções menos convencionais convivendo com outras mais pop. Por isso algumas pessoas que só conheciam o Pato Fu de rádio ou televisão, tomavam um susto quando ouviam o disco inteiro ou assistiam ao show.
FOTO: DUDI POLONIS

MBV: Quais as principais influências artísticas da banda?

F T: Acho que o ponto em comum foram os anos 80, mas juntando todas as cabeças aqui, tem música de todas as eras, do mundo inteiro. Acho que a diversidade é uma de nossas características musicais mais saudáveis. E sempre fomos muito atentos à importância das outras artes pra nossa música. Desde cuidar das capas, chamar diretores de clipes com linguagens interessantes, trabalhar cenários durante as turnês, ao figurino dos shows… essas escolhas sempre fizeram a diferença na forma como as pessoas formam um conceito sobre nós.

MBV: O primeiro álbum de estúdio do Pato Fu foi o Rotomusic de Liquidificapum, lançado em 1993. O que mudou de lá para cá na produção artística de vocês?

F T: O trio original continua firme, temos dois novos integrantes e desde 2003 todos os discos são produzidos pelo John. Adquirimos uma autonomia grande com nosso estúdio em casa, onde gravamos e mixamos tudo, inclusive alguns de meus discos solo. Acho que os anos de estrada nos fizeram melhores músicos e compositores, aprendemos a gerenciar nossa carreira num compasso menos afobado do que nos primeiros anos. O mercado da música é que mudou demais e ainda está mudando.


FOTO: DUDI POLONIS

MBV: Como vocês veem a cena atual da Música Popular Brasileira?

F T: Tem muita gente fazendo música de todo o jeito. O que era popular em outras épocas não é mais, incluindo o rock brasileiro. Acontece que hoje parece mais difícil viver de música, embora seja mais fácil produzir gastando menos. Mas daí pra rodar com uma turnê, achar espaço nas rádios e pagar as contas, é um outro salto. O que faz mais sucesso definitivamente nunca espelhou a real produção de um país como o nosso, tão cheio de expressões diferentes.

MBV: Como funciona o processo de composição de vocês? Toda a banda participa?

F T: Trabalhamos muito sozinhos: eu, John e Ricardo. Embora haja parceria entre nós, geralmente fazemos as partes separadas,  cada um no seu canto. O meu processo é violão na mão, papel e lápis. Bem básico. Às vezes faço uma melodia e harmonia e mando pro John, outras vezes escrevo a letra. Varia demais. É assim também quando componho com outras pessoas. Trocamos algum material à distância e só depois finalizamos.

MBV: Qual a perspectiva de vocês para a cultura com o atual governo federal?

F T: Completamente nula. Já está claro pro segmento que estamos nas mãos de inimigos da arte e da liberdade de expressão. É uma pena não enxergarem a importância da cultura brasileira, não investirem num setor em que comprovadamente somos competentes. O que estão fazendo com o cinema nacional que vinha numa produção maravilhosa, é um crime.

Por: João Santiago

2 Comentários

  1. Maneiríssimo

    Fernanda Takai tem um voz sensacional.
    Suave, meloso bem Bossa Nova Rock and Roll.
    Antes dela só Rita Lee tinha isso

  2. Adorei a entrevista João Santiago. Há tempos não tinha notícias da Fernanda Takai. Realmente foi muito bom saber mais do início da banda Pato Fu. Ótima entrevista João e MBV. Parabéns!!!!

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